Há quem defenda que o trabalho foi o fator substancial para que a humanidade pudesse de fato se tornar uma humanidade. De realidades mais agrárias e campais, remontando aos primeiros modos de organização de grupos e comunidades, passando por uma revolução tecnológica dada em muitos níveis (pensemos aqui não somente o avanço tecnológico de ferramentas e máquinas, mas da própria organização social, física, cultural, digital…), revoluções industriais e surgimento das plataformas, por exemplo, vimos ocupações chegarem a seu fim enquanto outras foram sendo criadas.
Dentro das transformações que o mundo do trabalho viveu ao longo de vários anos, hoje, pode-se perceber a emergência, cada vez mais forte, das chamadas ocupações criativas ou do trabalho criativo. De acordo com dados levantados pelo Painel de Dados Observatório Itaú Cultural, fazendo um comparativo do 1º trimestre de 2020 (pré-pandemia) e o 1º trimestre de 2022 (seguindo para uma fase pós pandêmica), os postos de trabalho na chamada Economia Criativa mostraram um crescimento de 8% (+570 mil postos).
Evolução dos postos de trabalho na economia criativa
Brasil - 1º trimestre/2020 - 1º trimestre/2022
Tais trabalhos criativos, imersos na economia criativa, são trabalhos que envolvem uma geração de valor cultural, simbólico, emocional, para além de apenas um retorno financeiro. Esses trabalhadores criativos podem ser, por exemplo, produtores de conteúdo, designers, trabalhadores de inovação, artistas e muitos outros. O ponto é que as ocupações são diversas, mas existe uma pergunta que fica: se existem trabalhos que são chamados criativos, existem aqueles que não são?
Pensemos nas seguintes situações.
1ª situação: um profissional de contabilidade de uma empresa precisa fazer uma nova planilha. Mais automatizada, mais completa, com informações mais nítidas sobre o fluxo financeiro da empresa e como o dinheiro pode ser destinado para cada área. A criatividade pode estar envolvida nisso?
2ª situação: Um motorista de ônibus precisa fazer um trajeto X num tempo determinado pela empresa, além disso, precisa agir como cobrador já na cidade em que trabalha as duas funções são ocupadas sempre pelo motorista. Além de prestar atenção no trânsito, ele precisa atender os passageiros, fazer contas e entregar possíveis trocos. A criatividade se faz presente para o desempenho das atividades?
3ª situação: uma liderança de uma equipe, dentro de um projeto desafiador, precisa não só desenvolver pessoas, mas gerir bem todo o projeto. Uma das entregas foi feita, mas o cliente não gostou, além disso, reclamou do modo que ele entendia que a atenção estava sendo dada a ele. Diante de realidades do cliente, o estresse do trabalho e uma equipe confusa com um desafio grande, a criatividade aqui é necessária?
Podemos pensar em diversas situações com profissões completamente diferentes, uma hora ou outra, a criatividade será demandada de nós. Em uma certa maneira, todo trabalho é criativo, pois ele sempre pede do trabalhador resolutividade para problemas e desafios que são postos momento atrás de momento na experiência cotidiana de trabalho. A não superação desses desafios, independente da realidade de trabalho posta, coloca a pessoa colaboradora em campos de insatisfação com aquilo que faz.
Christophe Dejours, um dos maiores teóricos do campo da Psicologia do Trabalho, um dia disse a seguinte frase:
“Trabalhar não é somente produzir, mas também transformar-se a si mesmo. Depois do trabalho, eu sou mais inteligente do que antes”.
Mas por que isso?
Vamos pensar na 3ª situação que trouxemos anteriormente. Cada desafio posto no trabalho exige do trabalhador uma resolução do problema que é posto, é uma constante movimentação do real para o desejado, assim se flui a evolução da organização. Tudo isso vai trazer consigo um processo de tensões, relações humanas, comunicação, negociações (que podem ser trabalhadas em outros artigos) e, olhem só, a criatividade. É possível entender, a partir dos ensinamentos de Dejours, que o trabalho em si tem duas realidades iniciais que, apesar de conectadas, são distintas: a tarefa e a atividade. O que são cada uma delas?
Tarefa: aquilo que é prescrito. É quando a liderança, no início de um projeto, cria um cronograma, define papéis que serão distribuídos entre seus liderados, objetivos do trabalho, é o que a organização define.
Atividade: aquilo que é real. Tudo o que realmente é feito pelos colaboradores para que um determinado trabalho possa acontecer. As gambiarras, arrumadinhos, o envio de email que não estava no script, uma comunicação com outra área não envolvida no planejamento, entre tantas outras coisas, tudo isso é atividade.
O ponto é que entre a tarefa e a atividade, entre o prescrito e o real, sempre vai existir uma distância que só conseguirá ser desfeita com o uso da inteligência e criatividade de quem trabalha. Desenvolver a criatividade, então, é saber quebrar as barreiras dos quadrados que são postos para nós.
Um sistema que funcionava muito bem de repente pode dar um bug, o que fazer? Uma equipe extremamente unida vê um dos seus ganhando uma nova oportunidade e mudando de emprego, desestabilizando emocionalmente quem fica pelo vínculo afetivo. A construção de uma apresentação que vai trazer resultados não positivos para um superior. Um processo mal desenhado causando confusão em relação às responsabilidades de cada pessoa colaboradora na empresa. Essa é a materialidade real do trabalho. Longe de um planejamento estratégico, metas e OKRs definidas a cada trimestre, a necessidade de resolução de problemas talvez seja uma das únicas coisas prescritas que se faz real no trabalho.
Dejours, com isso, nos ensina a ter um olhar um pouco mais crítico sobre aquilo que acontece no trabalho na prática. Se uma liderança ou pessoa colaboradora não conhece uma solução para um problema, é necessário que ele invente, questione a outras pessoas, busque caminhos de sair do estado em que se encontra. Um movimento criativo, então, pode ser entendido como uma forma de reconhecer a sua incerteza frente ao real e, diante desse “fracasso” inicial, movimentar-se para uma superação dele. Uma mentalidade (e principalmente, uma cultura) que estimula bem a resolução de problemas, é uma na qual lideranças e colaboradores possuem a coragem - e estímulo - para transgredir regras, buscar novos caminhos, não se apegar somente ao planejado, mas trazer um pouco do desplanejamento para jogo.
Legal, já abrimos a cabeça para entender um pouco mais sobre a criatividade e resolução de problemas, mas de forma prática o que devemos fazer em nossas empresas?
Aqui vão algumas práticas estimuladas por nós da Moodar para estimular uma cultura mais voltada para resolução criativa de problemas.
Fomentar um ambiente de confiança é essencial para promover a criatividade na resolução de conflitos. Para isso, as lideranças precisam demonstrar abertura e empatia, encorajando os membros da equipe a expressarem suas opiniões e preocupações sem receio de críticas ou retaliações. Visões que podem nos ajudar são:
Estimular a diversidade de ideias é fundamental para enriquecer o processo de resolução de conflitos. Líderes devem criar um ambiente inclusivo onde diferentes perspectivas, experiências e habilidades sejam valorizadas.
A experimentação desempenha um papel importante na promoção da criatividade na resolução de conflitos. Líderes devem encorajar os membros da equipe a experimentar abordagens não convencionais e a testar soluções inovadoras para os conflitos. Isso significa permitir que a equipe cometa erros e aprender com eles. A experimentação pode ser uma fonte valiosa de aprendizado e descoberta, muitas vezes levando a soluções surpreendentemente eficazes que podem não ter sido consideradas de outra forma. Para apoiar esse processo:
Reconhecer e recompensar a criatividade é um estímulo importante para que os membros da equipe se sintam motivados a contribuir com soluções inovadoras para a resolução de conflitos. Recompensas podem assumir várias formas, desde reconhecimento verbal e elogios até incentivos financeiros, promoções ou oportunidades de desenvolvimento. Pode-se pensar nas seguintes questões:
Facilitar a comunicação aberta desempenha um papel fundamental na promoção da criatividade na resolução de conflitos. Os líderes devem criar um ambiente onde os membros da equipe se sintam à vontade para compartilhar suas preocupações, ideias e perspectivas. A comunicação aberta é a base para a construção de relações de confiança e colaboração, permitindo que as equipes abordem conflitos de maneira construtiva. Além disso, a comunicação aberta permite a troca de feedback, o que é crucial para aprimorar as soluções e processos de resolução de conflitos ao longo do tempo.
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